sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Preto brilhante



No ar senti soltarem-se as asas do desejo... Embriegada de emoções, de sensações, de vontade... Sem sentir, o meu corpo mexeu-se para onde a razão não mandava... os olhares tocaram-se, afastaram-se, sorriram... Voltamos a cara... Seria certo? Seria errado? Senti os grilhões da racionalidade a prenderem-me à terra e a leveza da vontade a impulsionar-me para cada vez mais alto... Senti um esgar de dor... "Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh" gritei por dentro...

Soltei-me... Senti-me a flutuar...O peso da culpa esvaneceu-se e senti-me inundar de felicidade por um momento com final marcado... Afoguei-me no doce perfume do desejo...

Minhas mão percorriam o caminho como se ja o conhecessem...e conheciam, sentiam, vibravam... Todo o meu corpo tremia, pulsava energia... O frio do teu corpo quente fez-me baixar de novo à realidade...Que estavas tu a fazer? Que estava eu a fazer? Que estavamos nos a fazer? De novo estava ser puxada para baixo... a Razão fazia-me acordar do mais doce dos sonhos... tentei ignora-la... não consegui... Quando pensava que tudo estava perdido puxaste-me de novo para junto de ti... Sentia o teu coração bater...A tua mão puxou-me de volta para o caminho... Não tive medo... apenas segui... tudo ficou mais claro...
No final inspirei como se estivesse a vir à tona d'água...






"Todos os desejos são contraditórios como o do alimento. (...) O desejo é mau e ilusório, mas, no entanto, sem o desejo não esquadrinharíamos o verdadeiro absoluto, o verdadeiro ilimitado. É preciso ter passado por isto. Infelizes os seres a quem o cansaço subtrai esta energia suplementar que é a fonte do desejo. Infeliz, também, aquele a quem o desejo cega. É preciso arrastar o desejo até ao eixo dos pólos. "

Simone Weil, in 'A Gravidade e a Graça'