
Olho para o fundo da memória… consigo ver-te como se visse o teu reflexo na superfície de uma bola de sabão… como me fazes sorrir… nunca ninguém o conseguiu fazer dessa maneira… dou por mim feita tonta a olhar para a janela do infinito e a sorrir…sorrir de imaginar como estarias a fazê-lo se estivesses a meu lado… Desta janela vejo o passado…Risos ecoam na minha mente…hum…os risos da felicidade… mas acabou…chegou ao fim como se tratasse de um intervalo de escola… Intervalo onde brincámos, rimos, jogámos e onde a nossa imaginação voou… e voou longe…Contigo fui princesa aprisionada num castelo guardado por feras terríveis…bailarina que rodopiava, saltava, dançava em pontas como se estivesse equilibrada num fio…mas todo o fio parte… e este também partiu… partiu-se o fio mas ficou o resto da corda em seu lugar… a corda da amizade não se partiu…Por isso não estou triste…mantenho o sorriso e continuo a sorrir por essa janela aberta…Mas, agora é tempo de voltar a brincar… de inventar novos jogos…jogos de cores novas, de um azul quente, de um vermelho que refresca… É tempo de fechar, fechar não, deixar entreaberta a janela da qual vejo o passado…assim posso espreitar sempre que quiser…É altura de abrir a porta ao futuro que chega…
“Visita-me Enquanto não Envelheço
visita-me enquanto não envelheço
“Visita-me Enquanto não Envelheço
visita-me enquanto não envelheço
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu rosto de Modigliani suicidado
tenho uma varanda ampla cheia de malvas
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores
ver-me antes que a bruma contamine os alicerces
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo
subindo à boca sulfurosa dos espelhos
antes que desperte em mim o grito
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-se quando tua ausência se prende às veias
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro
perco-te no sono das marítimas paisagens
estas feridas de barro e quartzo
os olhos escancarados para a infindável água
com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te "
Al Berto, in 'Salsugem'
Sem comentários:
Enviar um comentário