terça-feira, 11 de novembro de 2008

Desta janela vejo...


Olho para o fundo da memória… consigo ver-te como se visse o teu reflexo na superfície de uma bola de sabão… como me fazes sorrir… nunca ninguém o conseguiu fazer dessa maneira… dou por mim feita tonta a olhar para a janela do infinito e a sorrir…sorrir de imaginar como estarias a fazê-lo se estivesses a meu lado… Desta janela vejo o passado…Risos ecoam na minha mente…hum…os risos da felicidade… mas acabou…chegou ao fim como se tratasse de um intervalo de escola… Intervalo onde brincámos, rimos, jogámos e onde a nossa imaginação voou… e voou longe…Contigo fui princesa aprisionada num castelo guardado por feras terríveis…bailarina que rodopiava, saltava, dançava em pontas como se estivesse equilibrada num fio…mas todo o fio parte… e este também partiu… partiu-se o fio mas ficou o resto da corda em seu lugar… a corda da amizade não se partiu…Por isso não estou triste…mantenho o sorriso e continuo a sorrir por essa janela aberta…Mas, agora é tempo de voltar a brincar… de inventar novos jogos…jogos de cores novas, de um azul quente, de um vermelho que refresca… É tempo de fechar, fechar não, deixar entreaberta a janela da qual vejo o passado…assim posso espreitar sempre que quiser…É altura de abrir a porta ao futuro que chega…




Visita-me Enquanto não Envelheço

visita-me enquanto não envelheço

toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me

com teu rosto de Modigliani suicidado


tenho uma varanda ampla cheia de malvas

e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores


ver-me antes que a bruma contamine os alicerces

as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo

subindo à boca sulfurosa dos espelhos


antes que desperte em mim o grito

dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão

derrama-se quando tua ausência se prende às veias

prontas a esvaziarem-se do rubro ouro


perco-te no sono das marítimas paisagens

estas feridas de barro e quartzo

os olhos escancarados para a infindável água


com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite

sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te "



Al Berto, in 'Salsugem'

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